Monday, October 30, 2006

Quanto vale um cliente?


Se fizermos essa pergunta para quem tem clientes (ou pensa que tem), as respostas vão desde “cliente não tem preço”, a “cliente é a razão da empresa existir”, etc. etc.
Para grande número de empresas, pura e deslavada mentira.
Muitas e muitas vezes o cliente não vale absolutamente nada.
Por alguns centavos a empresa o joga fora.
Por falta de mínima boa vontade em resolver o seu problema, sem que isso represente qualquer custo para a empresa, ela o afugenta (e ainda ganha de brinde ter a história contada aqui, com louvor).
Há alguns dias precisava de um cabo USB para encaixar na saída do modem de banda larga.
Procurei na www. point Multilaser, no andar térreo do Shopping Beira Mar de Florianópolis.
Como o vendedor não tinha certeza se o cabo que ele estava me oferecendo era o adequado, e eu também não, ele me propôs que eu o levasse, se não servisse era só devolver. Comprei nessa condição.
Preço: R$ 10,00.
Chegando em casa, sequer abri a embalagem, pois percebi que não resolvia o problema.
Na primeira oportunidade que tive, passei lá para fazer a troca.
Tempo entre a compra e a troca: 8 dias.
De cara, sem qualquer pergunta ou averiguação, recebi a imponente resposta que não devolviam o dinheiro, o que eu poderia era levar outra mercadoria.
Disse que não paguei com mercadoria, paguei com dinheiro, estou devolvendo a mercadoria, eles me devolvessem o dinheiro.
Consultaram o gerente, ou alguém com “poder” para decidir. Que fica na sobreloja, e nem aparece para o cliente.
Deve ser ótimo o gerente que não delega aos funcionários poder de decidir sobre um assunto de tamanha importancia.
A resposta veio rápida. (Gerente decidido).
“Não tem como. A orientação da loja é de não devolver dinheiro em qualquer hipótese".
Foi tamanha a firmeza da decisão que eu tive a impressão de que a loja iria à falencia se me restituissem dez reais.
Insisti, a essas alturas até para ver onde a coisa ia parar.
O vendedor (Fernando) então se dispôs a fazer uma “proposta”. Eu não precisaria levar a mercadoria agora, eles me dariam um vale para usar esse crédito posteriormente.
DEZ REAIS!
Pensei: se esse valor é tão importante assim para a empresa, porque não deve ser para mim?
Nada melhor do que isso para me animar a continuar insistindo na devolução.
Quando eu disse que havia até combinado com o vendedor (que não estava no momento) sobre a possível devolução, a resposta genial: “então o sr. deve voltar aqui outro dia e resolver com ele, porque ele não estava autorizado a fazer essa concessão”.
Como se vê, o vendedor só representa a empresa até onde interessa. Fora disso, o problema é com o vendedor...
Acho que esperavam que eu desistisse.
DEZ REAIS!
Insisti na a devolução do dinheiro.
(Mesmo porque jamais voltaria a colocar os pés numa loja com essa mentalidade). Nada adiantou. Dinheiro de volta, nem pensar.
DEZ REAIS!
Pedi então ao vendedor que escrevesse atrás da nota que eu estive lá para fazer a troca, prá que não alegassem que não tentei. Mais uma consulta ao gerente. Que continuou na sobreloja, e nem assim dignou-se a tentar resolver o problema, mesmo vendo o encaminhamento que o caso tomava.
UMA TROCA DE MERCADORIA CUJA EMBALAGEM SEQUER FOI ABERTA, DE DEZ REAIS!
Enquanto ele escrevia, a caixa resmungava, cheia de razão, alguma coisa como "devolução, sete dias..."
Se ela estava se referindo ao prazo do Código do Consumidor, até então ninguém havia mencionado isso. Acho que se eu tivesse devolvido nos primeiros quinze minutos após a compra a solução seria a mesma. Mas eu devolvi no oitavo dia.
DEPOIS QUE RECEBERAM O DINHEIRO DA COMPRA, O CLIENTE PASSA A SER UM INIMIGO FEROZ, QUE PARECE QUERER QUEBRAR A EMPRESA, E QUE TEM DE SER CONTRARIADO, HUMILHADO, PISOTEADO E, FINALMENTE, AFUGENTADO!
Eu fiquei com o cabo, eles ficaram com os dez reais e com o mico de ter a história contada aqui.
RESULTADO PARA A EMPRESA: adivinhem quando vou voltar a comprar lá.
Tá cheio de loja vendendo o mesmo produto que eles.
O PIOR É QUE TODAS AS PESSOAS ENVOLVIDAS NESSA FULMINANTE E BEM SUCEDIDA LIÇÃO DE COMO AFUGENTAR UM (OU MUITOS) CLIENTES AINDA RECEBEM SALÁRIO DA EMPRESA!
Muitas vezes nem lembramos onde fizemos determinada compra. Mas, se houve uma situação especial, nunca esquecemos como ela foi resolvida. É isso que determina se continuamos clientes ou não.
NA HORA DE COMPRAR, TODAS AS EMPRESAS SÃO MARAVILHOSAS. Mas é na hora de resolver um mínimo problema que elas revelam sua verdadeira (e muitas vezes surpreendente) face.
VOCÊ COMPRARIA NUMA EMPRESA ASSIM?

1 comment:

Fernanda Bronca said...

Diálogo na doceria mais famosa de Pelotas:

-Quero 15 desses bombons de morango
-Quinze não tem mais, moça. Já vendeu todos.
-Sempre que eu venho aqui, falta desses bombons, pq não fazem mais?
-Pois é, sempre falta mesmo. Todo dia falta esse bombom.
-Então pq não fazem mais?
-Não moça, a gente faz o suficiente, mas o problema é que sempre acaba faltando. O pessoal gosta muito, compra bastante.
-Pois então, pq não fazem mais, se sempre falta?
-Tu não entendeu, moça. A gente sempre faz o suficiente, mas sempre falta.

(Não foi comigo, mas é verídico)